quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Em Fátima (Not Lopes)...


Motivado pelo grande cisma religioso no Verbum Pro Verbo, decidi escrever algo que há muito que anda adiado, as minhas reflexões sobre aquele que para mim é um dos sítios mais perturbadores à face da Terra, Fátima.

Tenho muitas dúvidas sobre tudo quanto envolva religião, mas tenho pelo menos uma certeza. Detesto Igrejas (não me refiro aos edifícios, obviamente, alguns até são bem bonitos). E porquê? Porque as considero fábricas de ignorância e de mentira, exploradoras, hipócritas, intrusivas, assassinas, nobres contribuintes para o atraso em que o país se encontra e ainda de uma imbecilidade atroz. Podia dar muitos exemplos para justificar tudo o que enunciei, mas em vez disso vou falar do caso de Fátima que me atormenta particularmente.

Bom, toda a gente sabe a história de Fátima e a fábula das aparições de Santa Maria que em 1917 (que coincidência, logo numa altura em que a 1º Republica cortava forte e feio nos privilégios obscenos de que a Igreja Católica, IC gozava), terá aparecido a três pastorinhos feios e ranhosos na Cova da Iria, um sítio ermo onde nem o Judas perderia as botas e terá revelado umas quantas profecias (que entretanto já não o são, mas é destas coisas, profecias reveladas depois de acontecerem não têm grande valor) nomeadamente sobre a queda do comunismo, isto numa altura em que se começava a falar de lutas de classes (outra coincidência). Mas vá lá, nisso concordo com a IC, comunismo é bullshit.

Se a história de Fátima ficasse por aqui não seria muito mau. Mas não! As pessoas engoliram a história, e as massas, com a estupidez que na maior parte dos casos lhes é reconhecida contribuíram para fazer de Fátima aquilo que é hoje. Farei de seguida o relato de uma viagem minha a Fátima (fui a Fátima com a família por intervenção da minha mãe que se interessa por estas coisas da Fé).

Sai de casa cedo num domingo de manhã, de carro e sempre com os fones nos ouvidos para me ir distraindo pelo caminho. O primeiro pormenor curioso do dia verificou-se nas portagens de Fátima: a estrada que vinha do Norte tinha um grande engarrafamento, a do Sul, de onde eu vinha tinha 4 ou 5 carros. Fiquei orgulhoso.

Chegados a Fátima estacionámos num parque muito grande que fica logo à entrada. Por incrível que pareça estava lotado com carros, excursões e com algumas pessoas que em solidariedade para com os seus veículos, gostam de acampar no parque de estacionamento. Após esse primeiro choque fui levar os elementos da família que iam à Missinha e fui dar uma volta, apesar de não haver grande coisa para ver.

Acabei por ir ver o comércio local, porque verdade seja dita, é algo de fascinante. É incrível a quantidade de tralha que ali se vende, mais incrível mesmo, só o facto de haver quem compre. Em Fátima não há um restaurante decente, não há uma livraria digna desse nome, uma loja de informática, nada. Mas em compensação temos 12243535 lojinhas de merda onde podemos comprar tudo, desde “Nossas Senhoras Fluorescentes com um metro e meio”, às míticas placas “Em Fátima Rezei Por Ti” e ainda uma espécie de mini garrafões de água de Fátima. Tenho pena de quem ali vive, porque é de facto desolador.

Depois de ver os vendilhões decidi ir até ao templo. Fui até ao Santuário e passei pelo local onde queimam as velas e fiquei lá algum tempo para ver como é que a coisa funcionava. Aparentemente uma pessoa enfrenta uma multidão de crentes para comprar uma vela que é queimada num local próprio, que no fim do dia é limpo utilizando-se a cera derretida para fazer novas velas, que estarão à venda no dia seguinte. Brilhante. Comentei isto perto de um casal de velhotes: a senhora lançou-me um olhar de soslaio e o senhor riu-se e disse “É para ajudar o Santuário.” Sim, aposto que eles estão numa grave crise financeira.

Atravessei o Santuário, com cuidado para não incomodar quem estava a pagar promessas e parei perto de dois pequenos lagos artificiais (que desapareceram devido à nova basílica) com um palmo de fundura e dei com um brutal exemplo da estupidez humana que por ali paira: alguns idiotas, muitos por sinal, não perceberam que aquilo estava ali só para enfeitar, por isso vai de atirar moedas lá para dentro. Era coisa para estar um salário mínimo em cada poça. Mas o pior ainda estava para acontecer: a juntar às moedas, algumas almas que se calhar não tinham trocos na altura decidiram mandar lixo lá para dentro. Mas ninguém se importou. Pelo menos as duas velhotas que eu vi benzerem-se com agua dum ponto onde flutuava uma casca de banana não se pareceram importar.

Entretanto acabou a homilia e eu finalmente fui almoçar. Num parque de merendas repleto de moscas, cheiro a mijo, montes e montes de gente do nuórte (com garrafão e ar patego incluído) e ainda os ciganos da praxe, que pedem de tudo e mais alguma coisa. A única vantagem de tudo isto é que o almoço acabou depressa e em consequência disso pude voltar mais depressa para a civilização. Não sem antes ver uma senhora anafada, de frondoso bigode e com dois terços pendurados do pescoço a despejar o conteúdo de um alguidar onde acabara de lavar a loiça para dentro de um caixote do lixo.

E é este o retrato de Fátima: um sitio que de espiritual nada tem e que é um refugio de ignorância, obscurantismo, iliteracia e mau gosto. Parece que agora inauguraram para lá uma Basílica nova e os crentes andaram à batatada para verem quem entrava primeiro.

Ainda se Fátima servisse para inspirar as mentes mais influenciáveis a melhores comportamentos! Mas parece que nem para isso serve…



3 comentários:

PT Lyon disse...

Eu há uns anos fui lá.

A recordação com que fiquei foi que numa das entradas para a praça (estava lá exposto um bocado do muro de berlim e tudo) estava uma velhota a pedir esmola. Eu e o meu pai ficámos que tempos à espera do resto da família lá ao pé dessa entrada, que já tinhamos visto tudo o que queiramos ver...
Estivemos lá no mínimo uma meia hora à seca. Era incontável o número de pessoas que passavam por lá!
Quantas pessoas deram uma esmola à velhota? 0 (Zero)! Fiquei sempre a olhar a ver se alguém dava, ninguém deu... Quando nos fomos embora lá lhe dei qq coisa, mas pronto, foi esta a impressão que fiquei de fátima...

Uma porrada de crentes, ng ajudou a mulher...

PS: Quanto conto isto costumam dizer que é normal porque lá há mesmo muita gente a pedir. Lá só havia mesmo aquela mulher...

Miguel Pereira disse...

Desta vez, foi um puto cigano pedir $ a mim e ao meu pai... falamos-lhe dos tais lagos cheios de moedas ele que fosse lá, e levasse quanto lhe fizesse falta.

Não acreditou...

Persona Naturale disse...

Bem, fico "comovida" por ser a razão de te ter inspirado pa fazer este post lol

Eu acredito (cm já sabem), kd entro no santuário sinto uma paz k não sinto em outro lado nenhum.Mas, sinceramente o comércio atrofia-me, até me faz impressão. Eu não era capaz de viver em Fátima. Os vendedores aproveitam-se da fé das pessoas para ganhar dinheiro, pois os preços dos artigos são altissimos. Então aquelas figuras de cera, para se oferendar a Nossa Senhora, aterrorizam-me, faz-me mesmo muita impressão. Mas isto já se sabe, onde há pessoas, há "ladrões" se é k me faço entender!?

Bjinhos